Com a flexibilização do comércio exterior de lítio, o Brasil pode se tornar uma potência na produção do mineral, em momento de alta demanda pelo produto devido ao advento das baterias, avaliou a co-CEO da canadense Sigma Lithium Resources Corporation, Ana Cabral-Gardner, em entrevista à Reuters.
A executiva explicou que a dispensa de autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear, vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, deve atrair diversas empresas estrangeiras para a mineração no país, destravando investimentos nos próximos três anos.
“Por causa dessa regulação anacrônica, que classificava o lítio como de interesse nuclear, você caía em um meandro regulatório que não tornava o produto competitivo”, disse Cabral-Gardner.
Segundo a executiva, o Brasil estará numa “posição imbatível para alimentar a América do Norte e a Europa”, chamadas de cadeia do Atlântico, enquanto o mundo busca a eletrificação de carros. Recentemente, o presidente da Tesla, Elon Musk, visitou o país, mas a questão do lítio, estratégica para a sua companhia, não foi levantada oficialmente.
A mais recente sinalização nacional neste sentido ocorreu no início do mês, quando o governo brasileiro publicou decreto que flexibiliza as exportações de lítio do Brasil. A decisão tem potencial de viabilizar mais de R$ 15 bilhões em investimentos na produção do minério até 2030, segundo o Ministério de Minas e Energia.
O lítio interessa a vários países que buscam substitutos do petróleo para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Assim, vem ganhando cada vez mais valor no mercado internacional, com preços oscilando abruptamente em poucos meses. Por isso, e não à toa, já foi batizado de petróleo do futuro ou ouro branco.
O Brasil produz lítio desde 1991, por meio da Companhia Brasileira de Lítio (CBL). Atualmente, apenas duas empresas produzem o mineral no País: a CBL e a AMG Brasil – ambas em Minas Gerais.
A CBL é a única empresa brasileira produtora de carbonato e hidróxido de lítio e conta com uma unidade de mineração em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha) e uma planta de processamento químico em Divisa Alegre (Norte de Minas), além de um escritório em São Paulo. A empresa tem 100% de capital nacional e acaba de passar por um processo de desestatização por parte do governo estadual. A participação do Executivo mineiro no ativo, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), foi arrematada pela Ore Investment por R$ 208 milhões.
Já a AMG Brasil opera um complexo industrial na mina Volta Grande, entre os municípios de Nazareno e São Tiago, na região Central de Minas Gerais, e está investindo na expansão da produção na mina e em uma nova planta química de lítio. Sob aportes de R$ 1,2 bilhão, a unidade de beneficiamento transformará o concentrado em carbonato de lítio, conferindo maior valor agregado ao mineral extraído em terras mineiras. As operações estão previstas para 2026.