01/02/2023 às 18h32min - Atualizada em 01/02/2023 às 18h32min

Sigma Mineração obtém autorização para pesquisa mineral na Chapada do Lagoão, em Araçuaí.

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Chapada do Lagoão é um grande platô que forma um dos cartões postais de Araçuaí

Por 9  votos a favor e 5 contra, o Conselho Comunitário da APA-Área de Preservação Ambiental- da Chapada do Lagoão, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG), aprovou nesta quarta-feira ( 01/02), autorização para que a Sigma , subsidiária da canadense Sigma Lithium, faça perfurações para aprofundar pesquisas sobre a extensa riqueza mineral existente na Chapada do Lagoão,  que abrange uma área de 5 mil hectares de terra, habitados por pelo menos 200 famílias de nativos, distribuidas em  comunidades rurais. A discussão sobre a exploração de lítio na reserva, se arrasta desde 2018 e divide opiniões. Em 2019, o pedido de pesquisa foi negado pelo Conselho da Apa.

O lítio é considerado o petróleo branco da atualidade. Em Araçuaí, é explorado pela Sigma e pela CBL-Companhia Brasileira de Lítio. O mineral é utilizado principalmente na fabricação de baterias para carros elétricos.




O Conselho da APA Lagoão, é composto por 18 representantes de setores da sociedade civil organizada e de orgãos governamentais, tais como Emater, prefeitura municipal, Cáritas Diocesana, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Associar, Visão Mundial, Câmara Municipal, Escola Família Agrícola (EFA) e moradores da região da chapada.

Os conselheiros que votaram a favor da pesquisa, defendem que é preciso saber o que realmente existe no subsolo da chapada. "A exploração do lítio em nossa região, é o divisor de águas para o crescimento de Araçuaí"-  argumental os conselheiros.

 "Nunca fomos contra o desenvolvimento, mas precisamos saber o que vai ficar para Araçuaí.Os governantes não sabem cobrar os royalties, há pouca fiscalização dos minérios que saem da região.Vai tudo embora. Detonam com o meio ambiente, como as plantações do eucalipto, exploração de granito, entre outros. Precisamos discutir os impactos negativos e positivos de tudo isso"- argumentou João Eudes, representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ele votou a favor da pesquisa. 

"A APA já está bastante impactada com a exploração mineral, plantio de eucalipto, queimadas, desmatamento da vegetação nativa. É uma área estratégica na questão da água. É a caixa d´água da região.No entanto, não existe mapeamento geológico. É importante termos estas informações, por isso voto a favor da pesquisa"- alegou a conselheira Joildes Brasil, professora de geografia do IFNMG-Instituto Federal do Norte de Minas Gerais -Campus Araçuaí, que votou a favor da pesquisa.

Para João Nelson, representante da Cáritas Diocesana, a proposta da Sigma não oferece segurança. " É assinar um cheque em branco para a empresa. Não existe exploração mineral, sem degradação, por isso voto contra"-. " Há mais de 30 anos sofremos ameaças de empresas, com grilagem das terras. Sou a favor da preservação ambiental e por isso voto contra"- destacou Antonio Gomes dos Santos, morador da comunidade de Santa Rita e ex-presidente do Conselho Gestor da Apa.

Para os conselheiros Aderbal Neiva Santos, morador das Tesouras, e o vereador Demário, a maioria dos moradores da área impactada está consciente e favorável ao projeto de pesquisa.Eles votaram a favor do projeto.

O prefeito  Tadeu Barbosa, presente à reunião, disse que Araçuaí está em cima de uma reserva mineral muito grande. "Temos de alinhar os interesses econômicos e os sociais. Há pelo menos 4 anos, ninguém falava no lítio. Não sabemos se ele trará apenas benefícios. Não há esta certeza. Vamos fazer a nossa parte, alinhando as necessidades das comunidades"- afirmou o prefeito, pedindo que a Sigma assuma de imediato o Plano de Manejo, que estabelece o zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais  na  unidade de conservação, incluindo a implantação de estruturas físicas necessárias à sua gestão. 
 


ONDE FICA

A Chapada do Lagoão, distante cerca de 30 km de Araçuaí, é um grande platô, formado por pelo menos 139 nascentes, diversas espécies frutíferas como o pequi, mangabeira, jatobá, articum, entre outros, além de madeiras de lei, a exemplo de paus-terra, vinháticos, aroeiras, braúnas e jatobás. Pelo menos 17% da vegetação da área é de Mata Atlântica

MINAS

De imediato, a empresa vai explorar áreas de 6 minas, cujos direitos minerários pertenciam à Arqueana de Minérios e Metais e que foram vendidos para a Sigma, tais como a Lavra do Ananias e Lavra do Ramon. Todas as lavras são ricas em petalita,tantalita, espodumênio, lepidolita e ambligonita, minerais  com alto teor de lítio. Muitas destas lavras, começaram a produzir em meados de 1978, de forma artesanal.

 O detalhamento do projeto e das áreas a serem pesquisadas foram feitas por Iran Zan, Diretor de Relações com as Comunidades e Instituições. " Ainda não é um trabalho de exploração e extração, mas de pesquisa acadêmica. Queremos levar estudantes dos Institutos Federais e da UFMG,  das áreas de geologia, engenharia de minas e ambiental, para conhecerem essas minas que são muito importantes para o conhecimento científico"- disse ele. "Nenhuma dessas minas estão no platô, ou seja, na crista da chapada, mas sim, no pé do platô"- explicou o engenheiro Paulo Freiras, gerente de Saúde,Segurança e Meio Ambiente da Sigma.

As explorações de recursos minerais na Chapada do Lagoão tiveram inicío em 1966, através da Arqueana de Minérios e Metais, sob o comando do libanês naturalizado brasileiro, Kalil Afgouni. Os direitos minerários foram vendidos décadas depois para a Sigma Mineração. "Todo o trabalho que iremos fazer será baseado nas normas e critérios técnicos, contidos na legislação nacional e internacional, respeitando as características, a cultura e as tradições das comunidades locais"- garantem os representantes da Sigma.
De acordo com eles, as tratativas com os proprietários das terras, serão feitas através de contratos de arrendamento.


A  Sigma Lithium está construindo uma planta de operações nos municípios de Itinga e Araçuaí,, cidades onde o lítio bruto é extraído. 

Essa fábrica fará o beneficiamento do mineral para torná-lo um insumo pré-químico com alto teor de pureza, o que faz com que o preço da tonelada seja multiplicado por 100 (de cerca de US$ 60 dólares a tonelada, para um valor ao redor de US$ 6 mil dólares).
 
A empresa garante que  vai pagar royalties sob seu faturamento e 60% do valor arrecadado ficará com as duas cidades.

A empresa é listada na Bolsa de Toronto, no Canadá. Em 2021 fez um IPO ( oferta pública de ações) na Nasdaq,  que é um mercado de ações automatizado norte-americano onde suas ações são negociadas.
 
Sérgio Vasconcelos
Repórter

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