25/11/2021 às 14h44min - Atualizada em 25/11/2021 às 14h44min

​Região da Baixada em Araçuai: Onde tudo parece esquecido.


 
Quem passa pela região do Centro Velho( Baixada), na região central  de Araçuaí, entre Praça Valdomiro Silva e a avenida Nuno Melo, se depara com carcaças de casebres, prédios em ruínas, além de  muito lixo e degradação. Muitos não imaginam que ali já foi o centro pulsante da economia do município e da boemia de décadas atrás.


 Hoje , o local  se assemelha a um cenário de guerra, onde tudo parece esquecido.



Símbolo da prosperidade e do progresso, ponto de encontro da juventude dourada e onde muitos comerciantes fizeram fortuna, a praça Waldomiro Silva  em nada lembra os anos dourados que viveu.

Seu declínio se acentuou após as enchentes de 1979. Cansados e inconsolados com os prejuízos causados pelas cheias do rio Araçuaí e Córrego Calhauzinho, os lojistas foram,  pouco a pouco,  deixando a área para se instalarem na parte alta da cidade, no entorno do novo mercado municipal.

Dos anos 30 aos 50, o fox trote, o bolero e as valsas dos clubes Iguaçu, Calhauzinho e Automóvel Clube, embalavam os footings ( passeio ) das moças e rapazes que para ali se convergiam à noite. Era o “ must, o top das galáxias, o lugar da moda, daquela época. O Brasil vivia a Era Vargas, quando inflação e desemprego eram palavras pouco usadas na cidade.

O Bazar Doche, o Armazém Tanure, o Bar do Pepino, as farmácias Ari e Progresso, as Casas: Aureira, Pernambucana, Mineira, Teles, Marcelo, Rage e outras tantas  casas comerciais  levaram Araçuaí a ocupar um lugar de destaque no cenário político e econômico do Vale do Jequitinhonha e Minas Gerais dos anos 50 a 60.



 
DECLÍNIO COMEÇOU COM ENCHENTES E DEMOLIÇÃO DO ANTIGO MERCADO


O tempo passou e a praça viu tombar seu velho mercado municipal, construído no final do século 18 e que dava vida ao local. Seus arcos e grades de ferro não foram fortes para sensibilizar a mentalidade da época. Caíram sem resistência em nome do progresso.

.Em nome da mesma causa, retiraram as pedras do calçamento, tipo amendoim que no passado deram o nome de Calhau, hoje Araçuai.

 Vieram os bloquetes de cimento. Porém, as lojas resistiam. No lugar do velho mercado surgiram no centro da praça, um horroroso  canteiro sem flores e um marco luminoso de estruturas metálicas que abrigava um aparelho de TV para aqueles que ainda não podiam comprar a novidade, no inicio dos anos 70. No obelisco de acrílico, os comerciais luminosos das lojas Kennedy, Pablo Tecidos, Casa Pereira, Casa Marcelo, Casa Gonçalves, Vidroferro, entre outras, pareciam anunciar a resistência dos  que teimavam em permanecer na região.
Perto dali, na Praça do Coreto, o  Bar Espigão, abria suas portas para os seus clientes refinados, sob a batuta de Curto e seu filho Zé de Curto.



 
1980. A velha Praça da Lojas acompanhava  o embranquecer dos cabelos e as noites mal dormidas dos seus ocupantes, com a chegada da crise financeira , da inflação galopante e as cobranças dos títulos bancários vencidos.   Vieram  as falências e o fechar das portas de lojas tradicionais. Era o princípio do fim.



Zona boêmia que ganhou força nos anos 40 começa a agonizar

A mais conturbada e complexa vizinha da praça das Lojas - a zona boêmia- também agonizava. Pelas ruas Grão Mogol e Salinas, com seus becos e travessas  que guardaram tantos segredos e sussurros de alcovas já não eram mais as mesmas. À medida que os comerciantes saiam e a cidade crescia, a região foi ficando abandonada. Todo aquele pedaço era inundado quase todos os anos pelas cheias do Araçuaí e Calhauzinho, o que desvalorizou a área.
Os bordéis que ganharam força nas décadas de 40 e 50 , devido à construção da estrada Rio-Bahia e da  estrada de ferro Bahia -Minas fechavam suas portas, deixando para trás histórias trágicas de amores efêmeros resolvidos na ponta da faca ou no pipocar dos revólveres.
 
Mulheres como Ana Tição, Maria dos Dois, Ana Pé Roxo, Maria Cacetão, Maria Larga e outras anônimas Marias  que ofereciam seus corpos nos botequins mal iluminados já eram agora lembranças de um passado inglório, como as músicas que saiam  da sanfona  do velho Elói  que parecia ter 43 dedos em cada mão. Elas  varavam as solitárias  madrugadas de jovens boêmios e respeitosos senhores.




 

Carcaças

 

  O descaso dos proprietários com os imóveis, causam estragos profundos e revela  um retrato da decadência  que vai desenhando seus contornos em meio ao lixo e entulhos.




Ao passar pelo local você sente a nítida impressão de que no momento da caminhada você ultrapassa o portal do tempo.Os mais antigos,  vão relembrando dos botecos e casas comerciais  da época . Ali era  Tindó, acolá o de  Antonio Carcereiro, a padaria de Seu Jayme em frente a do seu Hermelino. Mais à frente, Dú de Neco, Tino Cego, Zé Lima, Geraldão, Geraldo Gazinelli, Roxo. “Está tudo morto”, lamenta Amaury  Sousa Carvalho, 42 anos filho do comerciante Geraldo Gazinelli que faleceu em agosto de 2007.


Atualmente , no entorno da praça e na Avenida Nuno Melo, funcionam poucas oficinas de artesãos do couro. Aos poucos,  outras empreendimentos foram se instalando na praça Waldomiro Silva,  como madeireiras, serralherias, um cinema, que levam um pouco de vida ao lugar, porém, os moradores denunciam a presença de traficantes e usuários de drogas que à noite ocupam os imóveis abandonados . O certo é que se houver boa vontade, mobilização dos proprietários dos imóveis e ajuda do poder público, a região da Baixada pode se transformar em um cartão postal e ponto turístico da cidade. É só querer.


Sérgio Vasconcelos
Repórter



 
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